DESEMBACE AS LENTES

Olhamos sem ver. E, rapidamente, fazemos as nossas classificações com base no que – estamos cansados de saber – não funciona mais. Caminhamos as mesmas e desgastadas trilhas, cheias de curvas e buracos, e por onde seguem todos, igualmente alheios à paisagem. Vamos com o foco ajustado no rotineiro, sem olhar para os lados ou para cima. Nem mesmo atentamos, de verdade, para o chão que passa como um filme visto dezenas de vezes. O horizonte, ao longe, sequer entra no reduzido esquadro a que nos condenamos, sejam quais forem as maravilhas que pode proporcionar. Os ditados populares tantas vezes no brindam com uma síntese de sabedoria, mas também passam batido: “o pior cego é o que não quer ver”.

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DESIDERATO 15 – EU DESEJO VIVER O TRABALHO COMO UM ATO DE AMOR

Se você deseja algo em troca, quando pensa estar amando, reavalie. Não é amor, mas necessidade de preencher alguma carência.  Amor implica disponibilidade, gratuidade e entrega. 

O mesmo princípio vale para o trabalho como um ato de amor.  Deve ser vivido da mesma forma, com devoção, não obrigação e sem almejar algo em troca. Ele é a própria recompensa. 

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DESIDERATO 14 – EU DESEJO UM MUNDO DE ABUNDÂNCIA

“Que todos tenham vida e em abundância”. Até mesmo porque se trata de um direito inalienável de todos os seres humanos, como consequência do que a própria natureza lhes oferece.

Quando olhamos para fora, suspeitamos do combinado. Afinal, são muitos os desertos, as misérias e as lamúrias. A escassez, o oposto da abundância, parece superar em muito a abundância. Tornou-se a expressão do mundo limitado que habita os seres humanos.  Foi inventada por eles, contra uma inclinação primordial.

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DESIDERATO 13 – EU DESEJO VIVER EM PLENITUDE

A velha economia promoveu a fragmentação. Deslocou a empresa do negócio, a profissão da vocação, o emprego do trabalho, a vida profissional da vida pessoal. As pessoas se sentem puxadas de um lado para outro, sem saber ao certo qual papel representam. A mesma dúvida se estende para as relações, no embate entre o desejo de agradar e o medo de desagradar.

Quando os polos se encontram, eles não se reconhecem. É como se o corpo seguisse em uma direção, enquanto a mente e a alma fossem para outra. O sentimento é de desagregação. A ausência de tranquilidade interior contribui, entre outros fatores, para o estresse. 

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DESIDERATO 12 – EU DESEJO RETRIBUIR

O espírito é solidário, ao contrário do instinto egoísta que leva seres humanos a buscar a sobrevivência, acima de tudo e de todos. Desconsidera, portanto, a colaboração como garantia da existência, razão pela qual a espécie ainda não desapareceu. 

Retribuir é um verbo representativo do espírito de solidariedade e de colaboração que perpetua a espécie. É um movimento natural. Sim, porque ao receber um presente de alguém, nosso impulso imediato é oferecer algo, de volta. 

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DESIDERATO 11 – EU DESEJO PRESERVAR O PLANETA

Oikos é uma palavra de origem grega que pode ser traduzida por “casa”. O Planeta Terra é oikos, nossa morada, a Grande Casa. Quem nela habita com espírito extrativista não consegue enxergar os demais habitantes como concidadãos. Considera tudo como objeto de uso ou usufruto, inclusive a própria morada. Acredita que a construção de riquezas só pode ser feita devastando a natureza. 

Oikos, mais do que simples residência, significa habitação compartilhada, a requerer outras duas palavras de origem grega: ética e estética. A primeira refere-se aos valores da casa. A segunda, à maneira como é arrumada, seu arranjo. Na ausência desses dois elementos fundamentais, inexiste ordem e beleza. Deixa, portanto, de ser o espaço habitado pelo humano, que sucumbe naquele aterro árido. 

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DESIDERATO 10 – EU DESEJO A CRIAÇÃO COLETIVA

O PIB mede a produção de bens e serviços, mas não de ideias. É um paradoxo, pois a economia entra em crise quando a capacidade dos empreendedores de imaginar e criar se estreita ou mesmo acaba, não porque a produção física restringiu-se, como afirmam os economistas. 

A velha economia chegou ao fim, da mesma forma que a repetição e a imitação. Não há mais espaço para produtos e serviços similares. Nem para empresas congêneres. Menos ainda para abordagens e formas de venda iguais. Quando o que prevalece é a regularidade e a estabilidade, não há gênio criativo que se expresse.

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DESIDERATO 9 – EU DESEJO IGUALDADE DE OPORTUNIDADES E RIQUEZA PARA TODOS

Os romanos, na antiguidade, davam nome aos ventos. Ob portus designava o que levava as embarcações ao porto seguro. Era considerado oportuno, pois soprava em direção ao melhor destino. Essa é a origem da palavra oportunidade.

Sozinho, o ob portus não é garantia de sucesso. Outros fatores serão necessários para o melhor aproveitamento das oportunidades. O sopro de fora precisa se conectar com o sopro de dentro.

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DESIDERATO 8 – EU DESEJO ESPIRITUALIDADE NA ECONOMIA, NOS NEGÓCIOS E NO TRABALHO

Pense na consciência que tem de si. Reflita sobre as ações que realiza em função dos empregos, dos negócios e do dinheiro. Você é quem deseja ser? Vive sua própria essência ou uma identidade alheia? Os seus valores correspondem às suas ações? Vivencia, de fato, a sua liberdade? Consegue ver as intenções por trás de suas ações? Ambas estão alinhadas, fazem sentido?

A questão é que, para a maioria das pessoas, nada tornou-se mais intenso e excitante do que a experiência com o dinheiro. Por decorrência, na mesma linha, os empregos e os negócios também se transformaram em experiências intensas e excitantes. Por vezes, é o instinto que está no comando, via competição predatória, exploração e flexibilização da ética. 

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DESIDERATO 7 – EU DESEJO QUE O BEM COLETIVO SUPERE O INDIVIDUAL

Há quem queira morar no edifício, sem pagar o condomínio. Há quem queira viver em sociedade, mas se recuse a atuar politicamente, abdicando de aprender cidadania. Há quem aproveite os semáforos verdes, embora se negue a obedecer aos vermelhos. Há quem viva os direitos, no entanto não se digne a cumprir os deveres. Há quem queira viver no planeta, sempre no papel de credor, jamais de devedor.

“Mais para mim” parece ser o mantra de muitos viventes, como se tudo e todos estivessem à sua disposição. Querem o uso e o usufruto, sem a valiosa contrapartida da dádiva e da entrega. Como fantasmas famintos, colocam o individual acima do coletivo, ao qual dão de ombros. 

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